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  • Foto do escritorMônica Cyríaco

Across the universe : Pensando a crise do Patriarcado a partir dos Beatles

Atualizado: 22 de dez. de 2022


Algumas efemérides, como os 80 anos de Paul MacCartney e de Gilberto Gil, aliadas a fatos incômodos que têm insistido em nos assombrar em pleno 2022, como a proibição do aborto e a liberação de armas nos Estados Unidos _ que repercutem fortemente no Brasil_ o racismo estrutural presente nas duas sociedades e a iminente destruição da floresta e de seus povos me motivaram a escrever esse post. Tento explicar, eu vejo tudo isso como uma forte reação do Patriarcado às contundentes ações ocorridas no final dos anos 60 e que repercutem em nosso modo de vida, na nossa visão de mundo e no nosso conceito de liberdade.

O dicionário define Patriarcado como uma organização social marcada pela supremacia do pai no clã ou na família em funções domésticas e religiosas, sempre caracterizado pela dominação e poder masculinos. As regras patriarcais estão tão profundamente arraigadas na nossa cultura, que nem mais as percebemos no cotidiano. Gostava de dar como exemplo para meus alunos as cerimônias religiosas de casamento : Uma mulher é levada pelo pai e entregue a um marido que a espera no altar. Em seu vestido de noiva, o véu e a brancura são garantias de sua pureza e virgindade, o que a atrela a uma santa/rainha e aumenta seu valor. A partir daquele momento, perante Deus ( sempre no masculino, nunca Deusa) ela passa a pertencer e a obedecer o marido em lugar do pai ( tudo isso envolto numa aura de romantismo tal, que leva as mulheres a sonharem com esse dia!) . Essa mulher vai desempenhar o papel de ensinar a seus filhos as regras patriarcais que devem seguir, sempre auxiliada por valores religiosos e escolares. A base sobre a qual o Patriarcado se mantém é a obediência cega à autoridade, a repressão das emoções - exceto o medo, esse deve ser sempre estimulado - a destruição da força de vontade individual e a repressão do pensamento sempre que este se afasta da maneira de pensar da figura de autoridade. Os métodos patriarcais levados para as organizações empresariais têm os mesmos princípios e podemos observá-los também na organização dos Estados, especialmente na insistência da violência como meio de controle social, que levam a repressões civis e a guerras entre nações.

Você deve estar pensando que exagero, que os tempos mudaram e que não é mais assim. Mudaram mesmo, muita coisa continua mudando, outras apenas se adaptam para se manter como sempre foram. O que causou essa mudança? Que movimento intenso foi capaz de sacudir as bases do Patriarcado?


A proposta hoje é, a partir do filme Across The Universe , de Julie Taymor ( 2007), sentir algumas rajadas da liberdade e do ativismo que foram capazes de mover certezas e verdades de seus lugares tradicionais e compreender porque esse contra-ataque que experimentamos em nossos dias nos parece ( e é ) tão violento. É que sabemos que "a toda ação corresponde uma reação de igual intensidade, mas que atua em sentido oposto". Estamos vivendo a reação.


Em 2016 ( se não me engano) usei esse filme em turmas da 3ª série do Ensino Médio , num projeto de Cinema, Literatura e Filosofia. Assistimos ao filme e depois discutimos todas as transformações pelas quais o mundo passou nas décadas finais do século XX e que estão apresentadas no filme a partir da releitura extremamente inteligente e sensível da diretora Julie Taymor. Minha intenção na época foi apresentar um contexto histórico para que pudéssemos entrar no conteúdo relativo ao Tropicalismo e à arte contemporânea. Eu precisava trazer para o contexto atual as condições que possibilitaram o aparecimento de vozes excêntricas até então silenciadas, como a das mulheres e suas reivindicações sobre seus corpos, a dos negros e suas lutas por direitos civis, a da juventude como força propulsora e transgressora, a do movimento hippie e seu questionamento radical do modo capitalista e de consumo e o direito à sexualidade livre. Nada melhor que o filme para fazê-los imergir naqueles anos revolucionários e fascinantes.


Nos anos finais da década de 60 é colocada em questão a continuidade daquela sociedade de ordenação masculina, dualista, excludente, cujas oposições binárias de gênero já não podiam dar conta de novas realidades surgidas no Pós-Guerra. Não por acaso surge a moda unissex, os cabelos dos meninos tornam-se longos, as meninas, já liberadas de uma gravidez indesejada pela pílula anticoncepcional, iniciam seus caminhos reivindicativos de igualdade. Sim , eu sei, não aconteceu exatamente assim em todos os lugares. Mas foi uma revolução muito rápida e potente, amplificada por novas mídias que conectavam pela primeira vez o mundo numa aldeia global. Observe as fotografias das capas dos Beatles, com um intervalo de 7 anos entre elas:

Em menos de uma década quanta mudança, não? Cabelos, roupas, comportamento...

Os Beatles e toda sua geração eram filhos da Guerra. Nasceram num mundo completamente destruído pela intolerância e cresceram num mundo a ser refeito. Foram jovens recusando-se a viver numa sociedade repressora e seguiram a trilha aberta pela geração Beat, com sua sede de liberdade literária e existencial, seus improvisos jazzísticos e considerada o embrião da geração hippie.

O filme não conta a história dos Beatles, mas conta a história daqueles anos libertários por meio da releitura de 30 músicas do grupo, todas tocadas integralmente, o que o torna um pouco mais longo que o esperado, o que não é nenhum sacrifício para quem é fã dos 4 fabulosos .

O enredo é simples , conta a história de amor entre um casal jovem formado por Jude , um inglês nascido em Liverpool, uma cidade portuária da Inglaterra e Lucy, uma jovem de classe média americana que termina o secundário e dela se espera que cumpra seu destino de mulher : casar e ter filhos. A grande sacada da diretora é colocar esse love story no contexto estadunidense de luta contra a guerra do Vietnã, pelos direitos civis e pela liberdade.

Vamos ao filme

Aparentemente é essa a linha do tempo ( 62-69) traçada pela diretora do filme, que se inicia com a apresentação de dois casais de namorados, mostrando a diferença e a distância existente entre eles, uma distância geográfica, mas também cultural. Jude aparentemente está no Cavern Club, o pub inglês onde os Beatles começaram a carreira e Lucy dança com seu acompanhante em seu baile de formatura. Ambos dançam Hold me tight ( 1963) e despedem-se de um mundo prestes a virar de cabeça pra baixo.

A seguir, vemos os casais se separando por motivos diferentes, são os homens que vão embora. Jude parte à procura de seu pai, um militar americano que esteve baseado em sua cidade e que, durante a guerra, engravidou sua mãe e Lucy se separa, porque seu noivo parte para a guerra do Vietnã.

Vamos sendo apresentados a outros jovens inadequados procurando seus lugares naquele mundo em desconstrução: a colegial Prudence, que está apaixonada por uma colega de escola e sofre pela necessidade de esconder seus sentimentos e o rapaz rico e desajustado, pois não se encaixa no modelo de família burguesa que lhe é exigido. Esse rapaz é Max, irmão de Lucy. A peripécia narrativa que une o casal Jude e Lucy é exatamente a amizade inusitada que nasce entre Jude, que vai à Universidade à procura de seu pai e Max, que está prestes a ser expulso dali. Max conhece a história de Jude e o convida para o jantar de Ação de Graças com sua família.

Lucy é uma menina ainda, sonhadora, mas já demonstra uma certa fissura no destino de mulher que lhe é reservado.

Numa conversa com uma colega de escola, afirma que não deseja ter filhos, embora se sinta bastante excitada com a possibilidade de rever o noivo que chegará no próximo fim de semana.


O jantar se revela um fracasso, as pessoas da sala de jantar fazem parte da família patriarcal e os conflitos geracionais não demoram a acontecer.

Max comunica à família que está deixando a universidade. O conflito se dá e os jovens rapazes decidem deixar a cidade e ir pra Nova Iorque. Nesse ponto do enredo, todas as personagens estão deixando algo pra trás, algo que não lhes cabe mais, todos partem em busca do novo em direção a NY, que representa o espaço da liberdade e que, junto com Londres vai se tornar o templo da contracultura, do rock, das lutas pacifistas e pelos direitos civis.

Em Nova Iorque entram em cena mais duas personagens que irão formar a comunidade que iremos acompanhar de perto: Sadie, uma referência a Janis Joplin em toda a sua potência e liberdade e Jojo, livremente inspirado em Jimi Hendrix e tendo seu nome como uma referência à música Get Back. Lucy logo irá receber a notícia da morte do noivo na guerra e vai se juntar ao grupo para iniciar sua participação na luta pacifista.

Nesse ponto ocorre uma belíssima cena no filme. Há uma guerra sendo travada fora do país, a Guerra do Vietnã, e há uma guerra travada dentro do país, a guerra racista contra cidadãos negros. Ambas matam jovens, ambas destroem o futuro, ambas são patrocinadas pela violência do Estado injusto e são sintomas de um mundo degradado. Duas mães espacial, social e culturalmente separadas, praticamente em oposição dentro de um mesmo país, choram seus filhos ao som das palavras de mother Mary.

Ao convergirem todos para Nova Iorque, entramos( nós também!) naquela comunidade multicultural e multiétnica, em que a única lei é a liberdade. Ali se propõem a compartilhar um outro modo de vida, em que o desejo, a empatia e a afetividade são postas no lugar da moralidade racional e autoritária, próprias do Patriarcado.

Nesse ponto do filme, ocorre a convocação de Max para lutar no Vietnã. É interessante observar nesse momento o diálogo que acontece quando os jovens falam sobre a guerra. Fica evidente diferenças sociais são levadas em conta para a convocação. Se Max estivesse na universidade não seria chamado , Jojo, por ser negro e sulista, já havia sido convocado e cumprido seu tempo de forças armadas. Ele diz que de onde ele vem, não há como escapar.

Ao som de I Want You ( She's so heavy) acompanhamos o momento do alistamento militar de Max. Nesse momento, as forças armadas são comparadas a uma máquina de produzir soldados em larga escala. É interessantíssima a relação existente no verso She's so heavy e a imagem do rapaz carregando a pesada estátua da Liberdade nas costas, que evidencia o paradoxo de serem obrigados , em nome de uma liberdade que não têm , a levar a liberdade para outros povos ( esse era o discurso oficial).

A despedida de Max se dá num clima de lisergia, a única possibilidade de se fugir de uma realidade brutal e asfixiante. A exploração dos estados mentais oníricos, o interesse pelas religiões orientais que fugiam do maniqueísmo cristão, o transcendentalismo são possibilidades de questionamento da moral racional que teimava em se colocar no lugar de autoridade. Há uma profunda desconfiança no discurso político e nesse ponto , o par romântico se divide entre aquele que acredita na luta política para mudar o estado de coisas naquela sociedade e aquele que prefere se alienar nas drogas e na evasão. Lucy está cada vez mais envolvida com os protestos antiguerra e Jude se dedica profundamente a seus trabalhos de criação ( ele está criando o logo para uma gravadora) e sente ciúmes de Lucy e seu engajamento na causa pacifista. O machismo e o sentimento de posse estão tão arraigados à nossa cultura, que até os jovens libertários e progressistas caem nessas armadilhas. " Viver é fácil de olhos fechados"

As acusações começam dos dois lados. Se Jude não acredita no discurso político do chefe do comitê antiguerra, Lucy menospreza o trabalho artístico de Jude, taxando-o de alienado. Ela se recusa a deixar a luta em que acredita. Ele se mostra descrente na ideia de tomada de poder : não há futuro prometido. O recrudescimento da guerra, o assassinato de líderes do movimento negro, a repressão aos protestos por direitos civis fortalecem esta rejeição ao poder instituído. No entanto há quem veja a importância dos que estão nas ruas buscando a revolução. A conciliação entre esses opostos torna-se insuperável e o casal se separa.

Aqui deixo um link com a tradução da letra de Lennon :

Agora vou fugir só um pouquinho do filme para colocar aqui uma resposta à letra Revolution , dos Beatles, dada pela maravilhosa Nina Simone, mulher, negra , engajada na luta antirracista e que ilustra muito bem a polifonia do final dos anos 60 e a existência desses dois lados da revolução : os pacifistas e os engajados. A resposta de Nina Simone, dada em 69, um ano após o lançamento dos Beatles, bem poderia ser a resposta de Lucy àqueles que menosprezavam a luta institucional em nome de um pacifismo e até mesmo um certo otimismo de que tudo ficaria bem. Veja a tradução dessa letra de Nina aqui : https://www.ouvirmusica.com.br/nina-simone/185514/traducao.html

Voltando ao filme, o par romântico se separa para se unir no fim ( afinal é uma história de amor) , Max volta da guerra bastante ferido física e emocionalmente, Jude é deportado, mas retorna a NY, onde todos se reunirão num último show no telhado de um prédio ao som de All you need is love.

O filme termina deixando no ar a pergunta : a revolução é mental ou institucional? Sabemos que a partir dos anos 70 o mundo experimenta uma certa "desilusão revolucionária", o psicodelismo já nos mostra um certo desencanto, uma tentativa de fuga para um Éden interior, ao mesmo tempo em que a palavra de ordem dos movimentos populares deixa de ser paz e passa a ser justiça.


A contracultura, grande conjunto de manifestações contestatárias, mudou completamente formas de pensar e se relacionar enquanto valores e meios, questionando o status quo do patriarcado a partir do underground, com formas expressivas não convencionais, principalmente o rock'n'roll. O feminismo, a luta antiguerra e antirracista criam nos jovens da época uma certa consciência das suas diferenças frente ao mundo adulto, e a partir desse mosaico de reivindicações e lutas contra diferentes tipos de opressão aos direitos humanos recusam um mundo que não lhes interessa mais.


No Brasil, a contracultura surge com os Tropicalistas, que fazem o questionamento radical da sociedade brasileira, a partir do conceito da Antropofagia modernista. Aliando a busca de uma identidade nacional aos conceitos surgidos na Europa e nos Estados Unidos, usando suas roupas andróginas, seus cabelos compridos, vivendo em comunidade, os tropicalistas foram muito rejeitados por aqui, tanto pela direita conservadora e patriarcal, quanto pela esquerda nacionalista e que a priori recusava tudo o que vinha das bandas de Tio Sam. Essa esquerda também se mostrava preconceituosa quanto aos temas da sociedade alternativa -

drogas, revolução sexual e o feminismo- frequentemente apontadas como elementos desviantes da luta contra a ditadura. É importante dizer que o fechamento do regime em 64 ajudou a barrar a chegada dessas ideias no Brasil.

Mas é justamente a prisão de Caetano e Gil e a ida dos artistas para o exílio que ajuda a espalhar os ventos da contracultura em nosso país. Eles não eram políticos no sentido restrito da palavra, eles eram libertários, malucos, cabeludos, andróginos. Eles recusavam o modelo do macho patriarcal, diziam ser proibido proibir e incomodaram demais a ditadura militar por colocar em cheque a moral e os bons costumes burgueses. Só para ilustrar essa afirmação, Caetano conta que a primeira coisa que fizeram com eles na cadeia foi cortar-lhes os cabelos!

Os artistas ficaram fora por três anos, o país ficou fechado por 21 anos e o resto é a história que conhecemos.


No início de 71, John Lennon , já fora dos Beatles, atestou : O sonho acabou!

Eu não sei sobre essa “história”. As pessoas que estão no controle e no poder, e o sistema de classe e toda a bosta da cena burguesa, é exatamente a mesma, a não ser que existe um monte de meninos de classe média e de cabelos compridos andando por Londres em roupas da moda e Kenneth Tynan’s está fazendo uma fortuna com a palavra “foder”. Além disso nada aconteceu. Nós estamos todos bem vestidos, os mesmos desgraçados estão no controle, as mesmas pessoas estão comandando tudo. Está exatamente do mesmo jeito. Nós crescemos um pouco, todos nós, houve uma mudança e estamos todos um pouco mais livres e tudo isso, mas é o mesmo jogo. Merda! Eles estão fazendo exatamente a mesma coisa, vendendo armas para a África do Sul, matando negros nas ruas, pessoas vivendo na pobreza, com ratos rastejando sobre elas. Isso só faz você vomitar

A gente poderia continuar a falar também que mulheres continuam a morrer na mão de machistas, que ainda ganham menos que os homens, que têm pouco acesso a cargos com poder de decisão, que a violência do Estado continua a prender e a matar jovens negros, que a vida dos povos da floresta ameaçada põe em risco e existência da floresta e , por consequência, a nossas existências, que os direitos dos LGBTQIA+ não são respeitados como deveriam. Poderíamos falar das armas, das guerras...

Mas

O Patriarcado sentiu. E reage. E sua reação tem a medida do golpe sofrido. As feministas não querem menos que seus corpos e suas regras. Os povos negros insistem em denunciar o racismo estrutural existente nas sociedades racializadas e afirmam que vidas negras importam. Os povos indígenas existem e resistem pra nos mostrar que é possível haver uma outra possibilidade de arranjo cultural fora do Patriarcado. Os LGBT's jamais aceitarão que lhes mandem de volta para o armário. Eu sei que pode parecer ingenuidade esse pouco de esperança, mas eu, uma mulher do século passado, ainda acredito na luta coletiva. E na educação diária e permanente. E na liberdade de se poder ser quem se é. E não sou a única.


Taymor encerra seu filme com All you need is love. Uma bela maneira de mostrar a importância do amor, palavra de ordem revolucionária do movimento hippie e que precisa reaparecer de tempos em tempos para nos relembrar de que as conquistas alcançadas por lutas coletivas precisam sempre de cuidado e muita atenção, para que não nos sejam retiradas. Malcolm X nos lembra que "precisamos de mais luz um sobre o outro. A luz cria entendimento, o entendimento cria amor, o amor cria paciência e a paciência cria unidade"

As argentinas , a partir de um movimento coletivo que poderia parecer impossível, conseguiram aprovar o direito ao aborto.

E as chilenas seguem em busca da queda do Patriarcado. A luta é contínua, coletiva e sem descanso


A luta feminista está intimamente conectada com outras lutas, já que para alcançar uma sociedade 100% igualitária e democrática para todas as pessoas é preciso abolir outros tipos de discriminação, como o racismo, a homofobia e as relações verticais e autoritárias de poder. Somos nós que fazemos a revolução diariamente. Lutemos, pois. Todos nós , homens, mulheres, pretos, brancos, todxs . A arte e em especial a poesia nos possibilita perceber a construção de subjetividades múltiplas, multiplicidade e heterogeneidade das demandas sociais e culturais. Façamos a nossa parte, sem jamais prescindir da luta coletiva, só ela pode nos apontar uma outra possibilidade de sonhar. Já houve meninos e meninas que um dia iriam mudar o mundo. Dois deles acabam de fazer 80 anos.


Aqui o filme completo e legendado: https://www.youtube.com/watch?v=5dwA-D8UQLc






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